sábado, 14 de abril de 2012

Quero uma mãe de vinte e seis anos



Ele tinha apenas 7 anos. Morávamos numa cidade interiorana e tudo que fugisse à normalidade chamava a atenção. Um dia após o almoço, o menino chegou-se a mim e disse:

- Quero uma mãe de vinte e seis anos.

- Meu filho, acho que isto não é possível, pois já tenho trinta e oito anos e não posso mudar minha idade para vinte e seis. Também quero acrescentar que você nasceu de mim e assim não pudemos mudar esta situação. Alguém por acaso acha que eu sou muito velha para ser sua mãe ou você não se sente a vontade por ser meu filho?

- Não é nada disso, mas eu só sei que quero uma mãe de vinte e seis anos.

Tenho pensado nisso pela vida afora. O que significava para aquela criança ter uma mãe de vinte e seis anos? Como superar um preconceito latente, imbuído de situações outras que prescrevem uma espécie de rejeição no seio da própria família?

O tempo passou, os anos se passaram. Hoje revejo aquele menino, já homem feito e penso nos caminhos percorridos e no hálito do amor que permeia nossas vidas. Agora eu poderia dizer: quero de volta aquele menino, na inocência da sua infância, para cotejar os dias inseguros do passado. Mas o presente é que conta. Por isto olhar a vida com um olhar de esperança é investir nas promessas de uma vida mais alegre, mais afeita aos desígnios do divino. E agora eu é que digo: quero ser uma mãe de vinte e seis anos para recuar para a outra margem e viver em sintonia com as marcas identitárias de uma idade sincronizada na existência dele, para vivermos os mesmos sonhos e as mesmas esperanças.

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