quarta-feira, 4 de abril de 2012

Foi assim...


O sol iluminava o caminho por entre árvores frondosas. Havia toda uma orquestração de sons variados: o bulício das árvores, o chilrear dos pássaros, o canto das cigarras, o burburinho do arroio e um chocalho ao longe. Ela pairava acima de tudo e por isso conseguiu estabelecer um silêncio, como um sinal de isolamento de tudo que manifestava vida.
O seu pensamento mergulhou em suas reminiscências e fios da memória brotavam dos arabescos da natureza, agora silente e merencória. O sol adejava, em filigranas multiformes, filtradas pela copa da mangueira. E de repente ele surge do nada e seus olhares se cruzam. Onde estavam as pessoas que participavam da festa? Distantes, de modo que não se pressentia a sua vizinhança. A troca de olhares, persistente, criou um diálogo em que o silêncio zunia. E as ondas da percepção foram se atenuando, colocando os dois em sintonia. Então ele falou:
- Isto para mim é um lugar sagrado, com quem eu nunca partilhara. E agora quero fazê-lo com você. Tudo isto que está em nosso derredor agora nos pertence, se você quiser. Os caminhos que trilharemos serão os nossos caminhos e na nossa passagem eles deterão a vida, que organizada, fará brotar novas vidas. É preciso apenas saber ouvir a voz da natureza, neste diálogo ininterrupto em que escutar, ver, sentir, degustar, cheirar, atuam como suplemento da própria existência. Seremos agraciados com o troféu de um vigor que imprime ao ato de existir o esplendor de outras vidas. Desfilaremos diariamente para gáudio de nossos filhos que, tirando-nos do castelo dos sonhos, nos colocarão no mundo real que fará jus a uma realidade não mais competitiva, mas agora plena de objetivos que dão nome a um forte arranjo de interesses mútuos. Saiamos para o sol. Deixemos que a voz da natureza, com a sua linguagem peculiar, dê vida a nossa existência.

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Agora ela sabe o que a vida reservara para si. E contempla, sentada numa pedra, vizinha a uma pequena cachoeira, cinco crianças tomando banho em locas de pedra, gritando, correndo e pulando pequenos pedregulhos que ficavam à margem da estrada. E ela, voltando a um passado próximo dizia a si mesma: - encontrei o sentido da vida, fazendo do real uma ponte para rastrear o sonho. E se deteve numa mangueira que se divisava ao longe... Uma mangueira que guardava, na sua sombra, agora vetusta, resquícios de diálogos com a natureza, em toda a sua gama de linguagens, sobressaindo, ainda, um diálogo do Ser para o Ser que tornou efetiva a eficácia do diálogo entre humanos.  

3 comentários:

  1. Que lindo seu texto professora, não poderia ser diferente vindo da senhora. Parabéns...
    Deyseane

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  2. Gosto dela sem nunca ter sido aluna, mas só de ouvir falar...

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  3. Geralda é para todos do MLI mais que uma professora e orientadora.Como diz Helder Holanda ela é nossa mãe Geralda.

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