O
sol iluminava o caminho por entre árvores frondosas. Havia toda uma orquestração
de sons variados: o bulício das árvores, o chilrear dos pássaros, o canto das
cigarras, o burburinho do arroio e um chocalho ao longe. Ela pairava acima de
tudo e por isso conseguiu estabelecer um silêncio, como um sinal de isolamento
de tudo que manifestava vida.
O
seu pensamento mergulhou em suas reminiscências e fios da memória brotavam dos
arabescos da natureza, agora silente e merencória. O sol adejava, em filigranas
multiformes, filtradas pela copa da mangueira. E de repente ele surge do nada e
seus olhares se cruzam. Onde estavam as pessoas que participavam da festa?
Distantes, de modo que não se pressentia a sua vizinhança. A troca de olhares,
persistente, criou um diálogo em que o silêncio zunia. E as ondas da percepção foram
se atenuando, colocando os dois em sintonia. Então ele falou:
-
Isto para mim é um lugar sagrado, com quem eu nunca partilhara. E agora quero
fazê-lo com você. Tudo isto que está em nosso derredor agora nos pertence, se você
quiser. Os caminhos que trilharemos serão os nossos caminhos e na nossa
passagem eles deterão a vida, que organizada, fará brotar novas vidas. É
preciso apenas saber ouvir a voz da natureza, neste diálogo ininterrupto em que
escutar, ver, sentir, degustar, cheirar, atuam como suplemento da própria existência.
Seremos agraciados com o troféu de um vigor que imprime ao ato de existir o
esplendor de outras vidas. Desfilaremos diariamente para gáudio de nossos
filhos que, tirando-nos do castelo dos sonhos, nos colocarão no mundo real que
fará jus a uma realidade não mais competitiva, mas agora plena de objetivos que
dão nome a um forte arranjo de interesses mútuos. Saiamos para o sol. Deixemos que
a voz da natureza, com a sua linguagem peculiar, dê vida a nossa existência.
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Agora
ela sabe o que a vida reservara para si. E contempla, sentada numa pedra,
vizinha a uma pequena cachoeira, cinco crianças tomando banho em locas de
pedra, gritando, correndo e pulando pequenos pedregulhos que ficavam à margem
da estrada. E ela, voltando a um passado próximo dizia a si mesma: - encontrei
o sentido da vida, fazendo do real uma ponte para rastrear o sonho. E se deteve
numa mangueira que se divisava ao longe... Uma mangueira que guardava, na sua sombra,
agora vetusta, resquícios de diálogos com a natureza, em toda a sua gama de
linguagens, sobressaindo, ainda, um diálogo do Ser para o Ser que tornou
efetiva a eficácia do diálogo entre humanos.
Que lindo seu texto professora, não poderia ser diferente vindo da senhora. Parabéns...
ResponderExcluirDeyseane
Gosto dela sem nunca ter sido aluna, mas só de ouvir falar...
ResponderExcluirGeralda é para todos do MLI mais que uma professora e orientadora.Como diz Helder Holanda ela é nossa mãe Geralda.
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